domingo, 28 de fevereiro de 2010

Medo de Finalizar Relações

Um dos medos que grassam pela nossa sociedade moderna, notadamente na ocidental, é o medo de terminar relacionamentos --- sejam eles profissionais, amorosos, simples amizades ou quaisquer outros.

É muito comum que mulheres casadas com homens ingratos, traidores, desrespeitosos, violentos até, permaneçam casadas por medo de terminar o relacionamento, e todos os pretextos para manter a relação doentia parecem muito legítimos, mas raramente passam de desculpas internas para não enfrentar o medo do fim.

E com os homens também se dá o mesmo: permanecem casados com mulheres que não os atraem, que não os estimulam, que não agregam valor em suas vidas, que não são aquelas pessoas que pareciam ser no início do casamento.

Não raro estes relacionamentos se seguram nas falácias de que os filhos vão sofrer muito com a separação; que vai sair muito caro dividir o patrimônio, quando há; de que os pais não suportariam presenciar a separação do filho ou da filha; e por aí vai a mentirada.

Com os relacionamentos comerciais ou profissionais dá-se a mesma coisa.

Muitos empregados não suportam a empresa em que trabalham, passam a maior parte produtiva de seu dia fazendo algo de que não gostam (para não dizer fazendo algo que abominam), com colegas com quem não se afinam. Mas ainda assim permanecem violentando-se diariamente, criando doenças que só materializam o mal estar que o dia a dia representa.

Muitos chefes e patrões também gostariam de mandar empregados insolentes, improdutivos, desrespeitosos embora, mas apegam-se a desculpas esfarrapadas para adiar o fim do relacionamento profissional, inventando desde preocupações (legítimas ou não) com a situação da família do empregado caso ele fique desempregado, até "medos" de represálias ou retaliações públicas.

Os trabalhadores autônomos, então, que não contam com a suposta segurança do salário garantido que têm os empregados e funcionários públicos, acabam muitas vezes por aturar clientes que nem representam lucro, que causam dissabores, que não respeitam, pela ilusão de que se "perderem" um cliente vão estar em péssima situação.

Todas estas situações acima ilustram um medo comum: o medo de dar fim a um relacionamento desgastado.

As origens deste medo podem ser muitas, mas cabe a cada um investigar qual (ou quais) traumas do passado ainda permanecem vívidos o suficiente para insuflar receios muitas vezes infundados. Cabe a cada um relativizar estes momentos traumáticos, e em vez de sufocá-los (o que implica dar mais força ao medo, que então age sem nenhuma força consciente que o limite) acolher o momento como algo necessário para o seu crescimento pessoal, conscientizando-se que desde o momento traumático até o presente a pessoa já mudou muito, está mais madura, mais inteligente, mais forte, e por isso mesmo caminhando a passos largos rumo à imunidade àquele problema.

Além disso, há que se ter uma crença em alguma Verdade Profunda (seja na lógica pura, seja na Divindade do coração da pessoa, seja nas assim chamadas "Forças do Universo", etc). E essa crença vai dar à pessoa a confiança necessária para saber que ao seguir seu coração tudo vai se ajeitar, e que o transtorno de encarar a outra pessoa e --- de acordo com cada contexto --- dizer a ela para ir embora é um preço baixo a se pagar tendo em vista o benefício vindouro.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

O Medo do Sucesso

De vez em quando ouve-se por aí a expressão "medo do sucesso", que normalmente só é entendida de primeira por quem não o tem, ou já o superou.

Na verdade, como todo medo, talvez o medo não seja do sucesso propriamente dito, mas das consequências deste.

Para simplificar, vamos tomar dois exemplos hipotéticos para meditar acerca do "medo do sucesso": o sucesso profissional e sucesso nos relacionamentos. E pelo mesmo motivo de simplificar, não vamos entrar no mérito que para pessoas diferentes, conceitos diferentes de sucesso.

As pessoas que tem medo do sucesso profissional (ou das consequências do sucesso profissional) normalmente têm traços de mesquinhez, de sovinice. São pessoas que preferem ficar na mediocridade porque se fizerem sucesso e ganharem dinheiro --- aí sim vem seu verdadeiro medo --- terão que dividir o resultado de seu esforço com outros.

Talvez por ter sofrido na infância algum trauma porque lhe obrigavam a abrir mão do que era seu de direito para dar a outro que não necessariamente merecia aquele benefício.

Talvez porque tenham medo de morrer, e imaginem que compartilhando o fruto de seu sucesso venha a faltar-lhes o suficiente para sobreviver.

Talvez porque não saibam ainda que são livres e soberanas para decidir o que desejam, a cada instante de sua vida, e que não existe essa história de "ter que", a ponto de sua vontade não ser respeitada.

Da mesma forma, podemos imaginar que as pessoas que têm medo do sucesso nos relacionamentos pessoais também sofrem de mesquinhez afetiva.

Talvez sejam pessoas que na infância tenham sido privadas do amor dos pais, ou acreditaram-se assim, e na fase adulta projetam essa crença introjetada em seus relacionamentos, procurando sempre pessoas que não vão amá-las na mesma medida, ou que estejam sempre propensas a abandoná-las.

Assim, essas pessoas desenvolvem um medo profundo de ter um relacionamento saudável, porque temem o que possa acontecer depois: perder o amor de sua vida, serem abandonadas, humilhadas, roubadas no seu sentimento.

Pode ser muito fácil vencer o medo do sucesso. Basta que a pessoa tenha coragem de analisar o medo (sem ter medo do medo, por absurdo que isso possa parecer); humildade para aceitar que o medo faz parte do universo que cada indivíduo é, por isso mesmo não pode ser rechaçado sem ser antes conhecido; e honestidade para não trapacear contra si mesmo no processo de investigação do medo; e, claro, coerência para saber que ao atingir um nível de consciência mais elevado do que tinha antes a pessoa tem de passar a agir de acordo com essa nova consciência, sem achar que ser incoerente com relação à consciência alcançada seja algo pelo qual se passa impunemente.

Hipnose para Vencer o Medo

As pessoas que sofrem de paranoia, pânico, medo intenso, fobias, ou seja qual for a denominação que a ciência dê para a situação, não raro estão dispostas em algum nível a fazer o que for preciso para acabar com o medo, principalmente se a solução puder vir de um ritual, de uma pílula ou até mesmo de uma cirurgia.

Entre os muitos expedientes que a medicina tradicional encontrou para "tratar" o medo está a hipnose, que muitos pacientes e terapeutas consideram, mesmo que oficiosamente, como a "cura definitiva" do problema.

Não é.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Como vencer o medo?

Se alguém se pergunta sobre "como vencer o medo", podemos inferir que para este alguém o medo é um adversário, uma entidade abstrata (creio) contra a qual o sujeito tem de lutar.

Partindo desse pressuposto, podemos dizer que o primeiro passo para vencer o medo, assim como para vencer qualquer oponente, é conhecê-lo o melhor possível.

Só que tem um problema: as pessoas têm medo de conhecer o medo, e por isto não o conhecem realmente. Pode parecer absurdo, mas é a mais pura verdade.

O medo de conhecer o medo é um problema para quem deseja vencer o medo, porque só há uma maneira de conhecero medo: entrando nele.

Entretanto, quando a pessoa toma a resolução firme, em seu coração, de enfrentar e adentrar o medo --- o que não implica necessariamente deixar de senti-lo, longe disso --- ela está munindo-se de ferramentas que o próprio medo dá para ser vencido.

Sem querer antecipar o dever de casa de ninguém, posso dizer que minha experiência pessoal tem demonstrado que todos os medos se adiam. Quero dizer: eu não tenho medo de fazer alguma coisa, tenho medo é da consequência que tal ato possa ter, e ao olhar para esse medo da consequência surge outro medo para mais além, e assim sucessivamente.

Basicamente, os medos são originados ou no instinto de conservação ou em traumas do passado. Mesmo medos como o da solidão, o de passar apertos financeiros, ou outros "embasados" em alguma justificativa aparentemente racional comungam de uma dessas duas origens básicas.

Medos originados em traumas podem ser os mais cruéis, mas também os mais fáceis de vencer. Basta que o sujeito conscientize-se de que esta ameaça não existe mais, e que aquele momento no passado não vai mais se repetir, a não ser na mente da pessoa (aí pode ser eterno) ou se ela mesma construir o contexto para que o trauma se confirme.

Nesta categoria, dos medos originados em traumas, podemos incluir aqueles que não parecem sê-lo: medo de ficar desempregado, por exemplo. Não parece, mas é um trauma que muitas pessoas têm e por ser algo tão comum elas sequer se apercebem disso. Talvez o indivíduo nunca tenha ficado um dia na vida sem trabalho (meu caso, por exemplo), mas ainda assim ele tem medo de ficar sem os meios para viver e sustentar sua família com dignidade; este é um trauma que é reforçado diariamente, a cada hora, pelas notícias que se divulgam nos meios de comunicação em massa, pela partilha de medos e preocupações de terceiros, etc.

Já os medos originados no instinto de conservação (claro que o medo de morrer é o mais comum, mas há outros) podem ser vencidos se o sujeito conscientizar-se de que, assim como toda criatura viva na face da Terra, em algum momento ele também vai morrer. Saber-se como um ser cuja existência física vai acabar em algum momento é, acima de tudo, uma prova de consciência da condição humana.

Isto acaba levando a um outro âmbito a reflexão: o das crenças.

Não cabe a mim julgar as crenças de ninguém, e não o faço (embora não possa deixar de conjeturar sobre elas). Da mesma forma, pouco se me dá que julguem --- e principalmente que condenem --- o meu sistema de crenças. Ele me serve, e é praticamente imutável em sua essência: as adaptações que recebe no decorrer do tempo servem apenas para dar uma forma mais útil às minhas crenças, não para mudar a sua base.

A fim de vencer o medo da morte, é mister que o sujeito tenha uma crença muito sólida em algo que seja verdadeiro, ou que lhe pareça verdadeiro. Essa crença nessa Verdade Profunda, por assim dizer, é que vai dar à pessoa estabilidade, autoconfiança e energia para conhecer cada um de seus medos, mapeá-lo e seguir em frente.

Entretanto, é necessário que tudo isso esteja amarrado pelo fio da coerência, sem a qual todo esse conhecimento e esse trabalho de autoconhecimento serão meramente letra morta, conversa fiada, e em vez de vencer o medo o sujeito se deixará enrolar por ele, até ser sufocado como num ataque de jiboia.

domingo, 21 de fevereiro de 2010

O MEDO DA ENTREGA

Todo ser humano nasce com um medo básico: o medo da extinção, o medo da morte. Porém, cada um desenvolve a partir desse medo básico, outros temores. Há dois temores específicos, que se entrelaçam um no outro: o medo de entregar-se ao amor e o medo de conhecer-se.

Desde Platão, há uma crença: a crença da divisão. Na sociedade grega, acreditava-se que havia existido um ser sobre-humano, um super-homem que tentara desbancar os deuses. Esse ser, era hermafrodita, pois possuía ambos os sexos. Castigado pelos deuses, esse ser foi partido em dois, homem e mulher, e desde então tem vagado pelo mundo buscando novamente ser um único corpo, uma única alma.

Assim, homens e mulheres, ao longo dos tempos, acreditaram na famosa história de encontrar sua “cara metade”, como se a falta que sentissem fosse a falta do amor de um companheiro. Encontrar esse ser que nos completa, tornou-se através da arte romântica e depois nos dias atuais, quase uma obsessão.

Porém, há quem tema esse encontro, pois o amor costuma nos revelar para nós mesmos. Eis aí, o medo que assola nossos dias: o medo da entrega. Entregar-se ao outro não significa necessariamente ter sexo com uma outra pessoa. Significa confiar segredos que não confiaríamos aos nossos amigos, significa dizermos o que pensamos e sentimos sem medo de sermos abandonados ou rejeitados, significa partilhar partes de nós mesmos que não partilharíamos com mais ninguém.

É, isso sim, ter intimidade suficiente para sermos nós mesmos, em nossa pura verdade, sem nenhuma máscara. Mas isso assusta. Porque ter intimidade com outro ser implica conhecermos muito bem a nós mesmos. E conhecer-se é um processo lento, doloroso e que demanda muita coragem. Para conhecer-se a fundo, é necessário descobrir-se falho, cheio de imperfeições e limitações, humano.

É preciso que amemos nosso lado sombrio e perverso. Que aceitemos possuir sentimentos como desconfiança, aversão, ciúme, inveja, raiva. E, tendo aceitação por essa nossa parte negra, nos aceitemos por inteiro, nos amemos em toda a nossa imperfeição. E esse é um processo muito difícil, porque no mais das vezes apresentamos aos outros e a nós mesmos, apenas os aspectos bons, dignos de serem elogiados, de nossa personalidade.

Isso porque vivemos num mundo de imagens idealizadas. Você já viu uma super modelo ter defeitos? Você já viu o ator de cinema chorar porque perdeu a mãe? O cantor de rock cheirar uma carreira de cocaína na frente da TV? O banqueiro ser preso por pedofilia? Não, você nunca viu essas imagens, porque a indústria do entretenimento e a sociedade de massas te apresentam a modelo, a atriz, o cantor e o banqueiro felizes, ricos, bonitos, perfeitos, em suma. Só você sofre, só você tem defeitos e chora por se sentir sozinho neste mundo.

Aceitar que vivemos numa sociedade que fabrica ilusões, porém, aumenta-nos o peso de termos de ser perfeitos o tempo todo. E então, face á nossa humanidade, podemos perdoar-nos por nossas fraquezas e falhas, e perdoando-nos, aceitarmo-nos tal como somos. Aceitando-nos podemos nos amar e amando-nos podemos amar a outra pessoa também. Assim, o medo do amor é na verdade o medo de si mesmo.

Portanto, amando a si mesmo podemos abrir nossos corações para que outra pessoa chegue. Uma pessoa que tem individualidade e personalidade próprias, mas que pode partilhar experiências de vida conosco, que pode partilhar visões de mundo conosco, que pode partilhar momentos de felicidade e tristeza conosco. E assim, ensinar-nos que o amor é um sentimento mais profundo.

Que o amor não se dá apenas na superfície, que para ele se realizar é necessário amarmos o todo de nós mesmos e do outro. E o TODO implica o lado bom e o lado ruim. Implica as fraquezas e as qualidades, os defeitos e a capacidade de doar-se. Implica que aceitemos a nós mesmos e ao outro por INTEIRO. Só desta maneira podemos visualizar o que há de divino em nós e no outro e assim, chegar á síntese tão sonhada pelos gregos.

E descobriremos ao final que não nos faltava nada, que estávamos preenchidos o tempo inteiro, bastava que buscássemos a nós mesmos! Bastava que nos conhecêssemos! E amássemos a nós mesmos integralmente! Alguém disse, não lembro quem, um verso assim: conhece-te a ti mesmo e conhecerás os mundos e os Deuses. Junto a este verso um outro, vindo do Mestre Jesus: ama ao próximo como a ti mesmo. Eis aí, todos os segredos revelados. Eis aí a solução de nossos medos mais profundos.

Lívia Petry

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Medo da Solidão

Existe um Mestre, Osho, que nos fala das diferenças entre solidão e solitude. Solidão, seria estar num sentimento de falta ( falta algo em nossa vida, falta alguém que nos preencha). Solitude seria um sentimento de preenchimento – estou sozinho por minha conta e pleno de amor, pleno de Deus. Por isso, Osho dizia que enquanto a solidão era um veneno, a solitude era a porta de entrada para o Divino em nossas vidas.

Hoje em dia, as pessoas costumam temer a solidão, a sensação de falta. Se repararmos, tudo em nossa sociedade funciona de acordo com uma dualidade: falta ( ou desejo) e preenchimento (ou consumo). Assim, as propagandas ao nosso redor criam-nos faltas imaginárias: o carro do ano, a casa num tal condomínio, a roupa de tal marca, o relógio da moda.

São carências que na verdade, não temos. Porém, elas são construídas dentro de nós com muito cuidado. Lembro da propaganda de um automóvel que mostrava uma mulher e um homem profundamente enamorados um pelo outro e ao fundo, tocava uma música que dizia: “ quando a luz dos olhos teus e a luz dos olhos meus se encontrar, então a luz dos olhos meus precisa se casar” A propaganda era um convite ao Amor, ao que há de mais sublime entre um homem e uma mulher. Pergunto: quantos de nós não seriam capazes de comprar o tal carro motivados pelo desejo de encontrar um amor verdadeiro? Eis aí, o truque da propaganda.

Eis aí a Sociedade de Consumo. Sentimos uma falta que nem sequer sabemos detectar qual é, mas carregamos a certeza que comprando um produto, teremos a ilusão de suprimi-la. Na realidade, nossas faltas se multiplicam ad infinitum, pois somos sempre estimulados a desejar algo e geralmente algo difícil de atingir, caro para se comprar, algo que nos preencha e que nos pareça de uma riqueza inabalável.

Não é à toa que volta e meia escutamos: isso é EXCLUSIVO, isso é para os VIPS, isso é ESPECIAL. Sim, é desta maneira que gostamos de nos sentir: Very Important Person, uma pessoa muito importante, uma pessoa única, uma pessoa especial. E vamos em busca dessas sensações. No entanto, há uma falta que o consumo não preenche. E que surge quando estamos em casa, sem televisão ligada, sem computador ligado, sem filhos, sem vizinhos, sem cachorro por perto. Quando estamos completamente em nossa companhia. Imersos em nós mesmos.

Então, surge a solidão. E o medo da solidão é avassalador. Mas de onde vem esse medo? Esse medo vem do sentimento de que somos pequenos, frágeis, vulneráveis. De que não somos completos ou perfeitos. De que precisamos de algo que nos faça perfeitos e completos. Nas horas em que estamos na nossa companhia, temos medo de encarar nossas falhas, nossos fantasmas, nossas fraquezas. Temos medo de nos olharmos no espelho da nossa alma e enxergarmos mais do que gostaríamos de ver.

Quem bebe muito, tem medo de ver o reflexo do alcoolismo, quem é desconfiado, tem medo de enxergar o reflexo da paranóia, quem faz sexo em excesso, tem medo de ver a compulsão refletida. E toda vez que nos enxergamos, somos capazes de entender nossas feridas, de conhecê-las melhor, de ir além das nossas limitações. Somos capazes de mudar nosso destino e nossos comportamentos. O medo da solidão, assim, também é o medo da mudança, da transformação de si mesmo.

Preferimos ficar agarrados ao que já conhecemos. Preferimos permanecer na superfície e não ter de olhar pra dentro de nós. A solidão assusta porque ela é uma ferramenta poderosa de auto-conhecimento, e ninguém quer se conhecer realmente. Porque dói. Porque enxergar nosso lado sombrio ás vezes machuca nosso ego, nossas certezas, nossa auto-estima. Ver que não somos apenas amor e bondade, mas também egoísmo e inveja, destrói a imagem perfeita que fazemos de nós mesmos para os outros e para nós.

Por isso, buscamos subterfúgios: ligamos o computador, falamos ao telefone, assistimos TV até tarde da noite. Estamos sempre em fuga, fugindo de nós mesmos, fugindo da sensação de estarmos conosco, sozinhos. Porém, quando descobrimos que não é necessário temer nossas sombras, quando descobrimos que podemos aceitar e amar nossas falhas, perdemos o medo da solidão. Se conseguíssemos olhar para nós e amar inclusive os defeitos, veríamos que já somos completos, que já somos perfeitos, que não necessitamos de nada que nos preencha, já estamos preenchidos!

Sou perfeita quando sinto ciúmes, sou perfeita quando desconfio de alguém, sou perfeita quando tenho vontade de fazer apenas o que quero, sem me importar com mais nada. Alguém nos disse um dia, que era FEIO ser egoísta, e ciumenta, e paranóica. Ninguém nos ensinou que defeitos, falhas, fraquezas, fazem parte de nós assim como a bondade e o amor!

Ninguém nos ensinou que antes de mais nada é necessário ACEITAR E AMAR  todos os nossos aspectos, inclusive e eu diria, PRINCIPALMENTE, os ruins! Porque é justamente por não nos perdoarmos e aceitarmos que sofremos. Sofremos porque sempre temos algum defeito visível. Porque temos a certeza de que não seremos amados ( se formos ciumentos, possessivos, egoístas, desconfiados).

Mas Deus é tão prodigioso, que volta e meia encontramos alguém que nos ama POR INTEIRO. Seja nosso pai ou mãe, seja um companheiro, amigo, colega de trabalho. E é nessas horas que descobrimos o segredo: que somos amáveis! Por inteiro! A Luz e a Sombra! As qualidades e as falhas! E aí, já não precisamos mais temer a solidão! Podemos transformá-la em solitude, em preenchimento, em plenitude, porque finalmente podemos estar inteiros diante de nós mesmos!

Amando-nos a nós próprios sem restrições!

Lívia Petry

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Além do Horizonte do Medo

Estava aqui ouvindo esta canção do Roberto Carlos (e Erasmo), Além do Horizonte, e fiquei pensando que horizonte é esse além do qual a alegria e a felicidade existem, e onde se pode viver em paz num paraíso de amor.

Ora, a (minha) resposta veio imediatamente: só pode ser o horizonte do medo. Qual mais seria? E aqui não falo de medo específico, e sim do medo comum a todos os seres vivos, seja ele medo de morrer ou medo de avião.

Mas todo medo terreno aponta para um medo maior, mais alto: o medo de não existir depois que a matéria se for. Pois o medo de estar separado, excluído, de estar sozinho na terra e distante de Deus nos leva a pensar em como é isso depois de passarmos desta para melhor. Mesmo os que negam a Deus, ou o Criador, o Cosmos, Universo, ou o nome que Ele receba em cada cultura, ou seja, os ateus, será que eles deixam de pensar seriamente sobre o que restará depois da morte física?

Já ouvi pessoas que não acreditam em vida espiritual após a morte do corpo defender esta ideia com unhas e dentes numa hora, mas em outra entram em dúvida, e hesitam na própria afirmação, ficando com medo de que seja diferente.

Mas pelo menos podemos pensar a questão, indo além do limite do medo de as coisas não serem como a gente imagina. Indo além do nosso próprio ego, que é nossa memória morta do passado, podemos nos conceber como seres com alma, espírito e consciência, e que esta consciência não acaba depois da morte física. Para isso, precisamos deixar de pensar esta ideia para além do sentimento comum a todos os seres encarnados, que é o medo da morte.

Tem um conceito interessante sobre isso que me lembrei outro dia, que é: nós somos aquele que continua, ou seja, o "eu" em nós que está vivo, presente no momento presente, independente de tudo que tenhamos passado e das sequelas que temos ainda disso, mentais, emocionais ou físicas. Eu sou aquele que continua vivo no momento presente, atento ao que se passa comigo aqui e agora. E isto é o que vale, apesar de qualquer coisa boa ou ruim que pensemos de nós mesmos.

Voltando então à canção do Roberto, entendo que para conhecer o Paraíso de Amor, a gente precisa ir além do horizonte do medo, qualquer que seja ele, da maneira que cada um puder e no tempo que puder.

Pois a ideia aqui é de vencer o medo, superar a si próprio, ir além do nosso horizonte limitante de medo, que é o famoso único inimigo (interno) que temos, como dizem os orientais, encarando-o, entrando nele, para aprender a sair dele.

Boa meditação,

Gentil.

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Vamos então à música do mestre Roberto Carlos, que nos incentiva a procurar o que está além do horizonte. Vejam esta bela versão desta canção, que acho de arrepiar, numa parceria com Jota Quest (eles mudam a letra um pouco na apresentação, fazendo improvisos; mais abaixo, uma versão somente do Jota Quest):

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Além do Horizonte deve ter

Algum lugar bonito
Prá viver em paz
Onde eu possa encontrar
A natureza
Alegria e felicidade
Com certeza...

Lá nesse lugar
O amanhecer é lindo
Com flores festejando
Mais um dia que vem vindo...

Onde a gente pode
Se deitar no campo
Se amar na relva
Escutando o canto
Dos pássaros...

Aproveitar a tarde
Sem pensar na vida
Andar despreocupado
Sem saber a hora
De voltar...

Bronzear o corpo
Todo sem censura
Gozar a liberdade de uma vida
Sem frescura...

Se você não vem comigo
tudo isso vai ficar
no horizonte esperando
por nós dois

Se você não vem comigo
nada disso tem valor
de que vale o paraíso
sem amor

Além do Horizonte
Existe um lugar
Bonito e tranqüilo
Prá gente se amar...

Lá Larálarálarálará Lalá
Lá Larálaralarálará Laralá
Lá Laralaralarálará Lalá
Lá Larálarálarálará Laralá...(2x)

Se você não vem comigo
Tudo isso vai ficar
No Horizonte
Esperando por nós dois...

Se você não vem comigo
Nada disso tem valor
De que vale o paraíso
sem Amor...

Além do Horizonte
Existe um lugar
Bonito e tranqüilo
Prá gente se amar...

Lá Larálarálarálará Lalá
Lá Larálarálarálará Laralá
Lá Larálarálarálará Lalá
Lá Larálarálarálará Laralá...(2x)

***